30 outubro, 2009

Assaltos insólitos
Assalto não tem graça nenhuma, mas
alguns, contados depois, até que são
engraçados. É igual a certos incidentes de
viagem, que, quando acontecem, deixam a
gente aborrecidíssimo, mas depois, narrados
aos amigos num jantar, passam a ter sabor deanedota.
Uma vez me contaram de um cidadão que
foi assaltado em sua casa. Até aí, nada
demais. Tem gente que é assaltada na rua, no
ônibus, no escritório, até dentro de igrejas e
hospitais, mas muitos o são na própria casa.
O que não diminui o desconforto da situação.
Pois lá estava o dito-cujo em sua casa,
mas vestido em roupa de trabalho, pois
resolvera dar uma pintura na garagem e na
cozinha. As crianças haviam saído com a
mulher para fazer compras e o marido se
entregava a essa terapêutica atividade,
quando, da garagem, vê adentrar pelo jardim
dois indivíduos suspeitos.
Mal teve tempo de tomar uma atitude e já
ouvia:
— É um assalto, fica quieto senão leva
chumbo.
Ele já se preparava para toda sorte de
tragédias quando um dos ladrões pergunta:
— Cadê o patrão?
Num rasgo de criatividade, respondeu:
— Saiu, foi com a família ao mercado, mas
já volta.
— Então vamos lá dentro, mostre tudo.
Fingindo-se, então, de empregado de si
mesmo, e ao mesmo tempo para livrar sua
cara, começou a dizer:
— Se quiserem levar, podem levar tudo,
estou me lixando, não gosto desse patrão.
Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam
aquele rádio ali? Olha, se eu fosse vocês
levava aquele som também. Na cozinha tem
uma batedeira ótima da patroa. Não querem
uns discos? Dinheiro não tem, pois ouvi
dizerem que botam tudo no banco, mas ali
dentro do armário tem uma porção de caixas
de bombons, que o patrão é tarado por bombom.
Os ladrões recolheram tudo o que o falso
empregado indicou e saíram apressados.
Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos.
Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto
nervoso quanto aliviado do próprio assalto que
ajudara a fazer contra si mesmo.
SANTANNA, Affonso Romano. PORTA DE COLÉGIO E OUTRAS
CRÔNICAS. São Paulo: Ática 1995. (Coleção Para gostar de ler).
O dono da casa livra-se de toda sorte de tragédias, principalmente, porque
(A) aconselha a levar o som.
(B) conta os defeitos do patrão.
(C) mente para os assaltantes.
(D) mostra os objetos da casa.
No trecho “e o marido se entregava a essaterapêutica atividade.” (18-19), a expressão estacada substitui
(A) fazer compras.
(B) ir ao mercado.
(C) narrar anedotas.
(D) pintar a casa.
É exemplo de linguagem formal, no texto,
(A) “dito-cujo”. (14)
(B) “adentrar”. (20)
(C) “pão-duro”. ( 38)
(D) “botam”. ( 43)

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