11 janeiro, 2011

UM PÈ DE MILHO
     Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho.
     Aconteceu que, no meu quintal, em um monte de terra trazida pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim - mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa. Secaram as pequenas folhas; pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente que aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio um outro amigo e afirmou que era cana.
     Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança suas folhas além do muro e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais - mas é diferente.
     Um pé de milho sozinho, em um canteiro espremido, junto do portão, numa esquina de rua - não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas - mas na lógica de seu crescimento, tal como vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, de crinas ao vento e em outra madrugada, parecia um galo cantando.
    Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores lindas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que me fazem bem. É alguma coisa que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.

                                                                                                                   Rubem Braga
01    A expressão sublinhada no segmento ''Os americanos, através do radar...'', indica:
A)    lugar;
B)    instrumento;
C)    meio;
D)    causa;
E)    condição.

02    A crônica acima foi escrita há mais de vinte anos por Rubem Braga; o segmento do texto que mostra sua não-atualidade é:
A)    ''Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua,...'';
B)    ''...sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos'';
C)    ''Anteontem aconteceu o que era inevitável...'';
D)    ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
E)    ''Detesto comparações surrealistas...''.

03    Entre os dois períodos do primeiro parágrafo do texto, a oposição mais importante para o próprio texto é:
A)    estrangeiros X brasileiros;
B)    emocionante X frio;
C)    universal X particular;
D)    cósmico X terrestre;
E)    tecnológico X rudimentar.

04    ''...nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim...'', ''...e declarou desdenhosamente que aquilo era capim.''; os dois elementos sublinhados no texto indicam, respectivamente:
A)    desprezo / desconhecimento;
B)    desconhecimento / desprezo;
C)    desconhecimento / desconhecimento;
D)    desprezo / desprezo;
E)    afetividade / menosprezo.

05    O motivo que levou o autor a escrever a crônica foi:
A)    os americanos terem estabelecido comunicação com a lua;
B)    ter nascido um pé de milho em seu canteiro;
C)    o pé de milho de seu canteiro ter pendoado;
D)    o pé de milho de seu canteiro ter conseguido sobreviver ao transplante;
E)    ter sido confirmada a sua opinião de que o que nascia era um pé de milho.

06    ''...não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente''; o segmento que confirma o que está sublinhado é:
A)    ''Suas raízes roxas se agarram no chão...'';
B)    ''...suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis'';
C)    ''...meu pé de milho pendoou'';
D)    ''Meu pé de milho é um belo gesto da terra'';
E)    ''...afirmou que era cana''.

07    Considerando o segundo e o terceiro parágrafos do texto, o segmento que pode ser considerado uma interrupção da narrativa é:
A)    ''Quando estava com dois palmos, veio outro amigo e afirmou que era cana'';
B)    ''-mas descobri que era um pé de milho'';
C)    ''Mas ele reagiu'';
D)    ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
E)    ''Ele cresceu, está com dois metros...''.

08    A substituição correta do termo sublinhado por um sinônimo está em:
A)    ''Transplantei-o para o exíguo canteiro...'' = raso;
B)    ''...e declarou desdenhosamente que aquilo era capim'' = depreciativamente;
C)    ''...veio enriquecer o nosso canteirinho vulgar...'' = popular;
D)    ''Anteontem aconteceu o que era inevitável...'' = imprevisível;
E)    ''...que se afirma com ímpeto e certeza'' = velocidade.

09    A substituição da expressão sublinhada por um só termo é INADEQUADA em:
A)    ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'' = urbano;
B)    ''...tal como vi numa noite de luar...'' = enluarada;
C)    ''...beijado pelo vento do mar...'' = marinho;
D)    ''...exíguo canteiro da casa.'' = doméstico;
E)    ''...é um belo gesto da terra.'' = terrestre.

10    Em todos os segmentos abaixo há um sintagma construído por um substantivo + adjetivo (ou vice-versa); o sintagma em que a troca de posições entre esses vocábulos pode trazer mudança de sentido é:
A)    ''Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa'';
B)    ''Secaram as pequenas folhas'';
C)    ''Sou um ignorante, um pobre homem da cidade'';
D)    ''...e é um esplêndido pé de milho'';
E)    ''...em um canteiro espremido...''.


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